10 novembro 2012

E agora, o que fazer com essa perfeição?


Incrível como nós, mulheres, corremos atrás e ao mesmo tempo rejeitamos a perfeição. Explico. A todo custo, todo santo dia, a mesma luta que inclui trabalhar bem, ser ótima namorada, boa filha, aluna exemplar e sem perder o estilo ou sair pra rua sem a convicção de que somos demais (ai da moça decidir de sair casa já se achando lixo: tende a terminar o dia na pior). E a gente se esforça sempre pra conseguir ser mais aceitas, melhor remuneradas, com menos celulite e o ouvido cheio de elogios. Normal. O que me intriga é a falta de tato ao lidar com o bom senso dentro de um relacionamento. Explico de novo: nos desestabilizamos. Cadê a capa de supermulher que a gente veste toda manhã pra encarar uma piranha curtindo todas as fotos do namorado? Existe paciência em aceitar sem pestanejar um pouco de carinho sem o medo cruel de que seja puro sentimento de culpa? Ou, para resumir: tem como nós, da classe feminina, abonarmos o martírio de nós mesmas e nos aceitarmos incríveis com caras que achem o mesmo sem surtar por uma demora em responder mensagem? Tem, claro que tem. Só falta a gênia que habita interiormente descobrir.

Sabemos que não existe maestria completa nessa vida. Mesmo assim, andamos com pressa, nos alimentamos corretamente, travamos os impulsos mais sentimentais, nos concentramos à base de pílulas para não nos tornar "gordas" psicóticas mal sucedidas - porque é assim que dá medo que nos encarem, com as piores qualidades possíveis. No meio do lapso moderno de vida, respiramos, enlouquecemos, queremos só mais um pouquinho de amor, só mais um tantinho de dinheiro para conseguir juntar para aquela viagem que fica sempre para o próximo feriadão e não ocorreu até hoje. Por dentro, sofremos feito passarinho no ninho, emaranhadas dentro dos problemas de criamos, entremeados na teia fininha de quem quanto mais faz, mais deseja acertar e assim, mais se enche de encucamentos e autoanálises profundas que dão em nada. E quando o trabalho não está lá essas coisas, as amigas são poucas mas, engraçadas e de bom coração, a grana anda curta e a família julgadora, é no amor que a existência escolhe a maior estampa (que a gente lava na máquina pra ver se não estraga, que a gente estica e puxa pra ver até onde vai, que a gente testa sem querer e usa por vários dias pra ver se enjoa - e continua ali, firme e forte porque só homem de caráter forte pra aguentar tudo isso e seguir do lado, chamar de louca pra logo em seguida esmagar muito e dizer "chatinha" como quem responde em silêncio que aceita as burocracias porque a parte boa vale a pena.

Toda essa explicação pra afirmar que, sim: fomos educadas desde pequenas tendo a certeza que homem não presta é nada, que é preciso "confiar desconfiando", que cara quieto demais ih, filha, toma cuidado e presta bem atenção porque o chifre cresce e todos veem, menos nós, as meninas do papai. E alguns podem mesmo até representar uma parcela de 20 ou 30% de filhos da puta, otários ou mongolões que não veem a benção em forma de mulher que dá a mão na hora de caminhar na rua, mas é só às vezes. Enfim: e daí quando a parte amorosa deslancha, a gente não consegue se aquietar e curtir por muito tempo. É triste, mas a gente vai vasculhar até encontrar alguma paranoia que sirva de motivo pra um mal estar ou discussão. Vamos sair do abraço na hora de dormir porque está muito quente, insistir em saber como era a ex, dormir só com 'boa noite'; deixar que a demência segue a lucidez de ser a mulher que eles escolheram pra chamar de amor, quando na cozinha.

Pode ter sido o final de semana mais bonito em meses, a paixão ser expressa em mil abraços e palavras doces, o sexo no ponto mais alto da libido de quem sente a falta durante a semana, a sintonia afinada capaz de compor o momento da melhor forma possível, que não adianta: é dom de quem usa saias acatar ao monstrinho dos zunidos que falam na mente pra que a gente atente bem, seja observadora pra não ser feitas de idiotas; inconfortáveis e sem saber o que fazer com a perfeição possível de um momento em mãos, arriscamos um pouco de frieza, nos dispersamos na discussão fútil que não sabemos mais porque teve início,  embarramos na ingenuidade de quem só quer passar por uma rusga ou outra tirando sarro da própria obsessão, rindo à toa pra não se perder nas mil e uma ideias próprias, amando mais porque a gente só consegue fechar os olhos e respirar mais lento quando as certezas estão todas no lugar. Geralmente, depois de uma briga boba ou outra que certifique que tudo nunca esteve melhor.
(Autora do Texto - Camila Paier)


2 comentários:

  1. Infelizmente, realmente o fantasma da perfeição, ou melhor, da tentativa dela, ficam nos perseguindo. É preciso ter muito auto controle pra não surtar! :s
    Hey, já estou seguindo aqui, viu, flor! Parabéns pelo blog!

    Maturidadeemconstrucao.blogspot.com.br/

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  2. Pois é esse negocio de sempre queremos a perfeição temos que tomar cuidado, nada é perfeito então não adianta correr atrás da perfeição, tem que ter o auto controle mesmo. Obrigada pelo comentário volte sempre ♥

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